MEU FILHO NA EUROPA


          Meu filho Ricardo decidiu ir morar na Europa e eu o aconselhei a ir para Portugal, não era o destino mais requintado, mas havia a vantagem da língua e da legalização dos imigrantes. Desta forma dia quatro de abril de 2000, aos vinte e um anos de idade, ele mudou-se, deixando seu velho pai com o coração cheio de saudades.

          Ricardo queria conhecer a Itália, de modo que foi primeiro para Roma e, cerca de um mês depois, chegou em Lisboa. Como em qualquer outro local, Ricardo adaptou-se depressa à vida em Portugal e conseguiu legalizar-se antes do vencimento do seu visto de turista. Cada telefonema ou carta que recebíamos era uma festa, como é bom falar ou pelo menos receber notícias de quem se ama...

          A verdade é que se eu soubesse que sofreria tanto com a sua ausência jamais teria deixado ele sair daqui. Como é difícil viver sem a sua presença... Meu filho foi criado para o mundo, eu sempre soube que ele ficaria tranqüilo em qualquer lugar do planeta, mas nunca estamos realmente preparados para uma separação desta.

          Mas se ele não tivesse sangue de aventureiro nas veias não seria meu filho, ele já me avisou que tão cedo não volta para casa. Sinal de que tudo está bem do outro lado do Oceano Atlântico. Como a saudade começava a ficar insuportável e nós estávamos prestes a sair de férias, planejei uma ida a Portugal para passar um mês em sua companhia.

          Depois de tudo combinado comprei a passagem e me preparei para embarcar. O vôo fazia escala em São Paulo, onde fiquei duas horas, e depois seguiria para Lisboa,  onde cheguei à uma hora da tarde e encontrei o aeroporto cheio de pessoas em trânsito. Ao chegar em Lisboa, depois de quase quatorze horas de viagem, encontrei uma greve dos funcionários da alfândega, havia filas quilométricas para passar por ali.

          Após ficar cerca de uma hora quase dormindo naquelas filas cheguei ao salão onde pegaria minha mala, mas ela, como as demais do meu vôo, havia sumido! Comecei a procurar desesperadamente e meia hora depois, finalmente, a encontrei em uma sala próxima. Meu filho, obviamente, já devia estar preocupadíssimo com todo esse atraso.

          Assim que nos encontramos demos um abraço demorado, para matar a danada da saudade, então ele pegou uma sacola de viagem que ele trouxera e a minha mala e me perguntou: Vamos embora, pai? Eu acenei que sim e ele começou a caminhar para dentro do aeroporto. Eu o adverti que a saída era pelo outro lado. Ele me respondeu que precisava passar em um lugar, e eu precisava ir com ele. Tudo bem, mesmo após exaustivas quinze horas e meia de viagem!

          Nós andamos, depois subimos por uma escada rolante e lá na frente chegamos em um portão de embarque. Meu filho mostrou uns papéis à recepcionista, ela os devolveu e meu filho me chamou: Vamos, pai? Eu já não estava entendendo mais nada, entrar em um portão de embarque? Perguntei ao Ricardo se ele estava me despachando de volta para o Brasil, ele riu e disse que queria apenas me fazer uma surpresa, havia comprado as passagens e reservado o hotel para passarmos uma semana em Paris!

          Eu o critiquei, disse que ele estava gastando muito dinheiro e ele, então, me disse que queria apenas pagar um pouco do muito que eu havia feito por ele. Fiquei completamente abobalhado, emocionado e feliz.  Devo dizer que mais duas horas de viagem era tudo o que eu não queria naquele dia, mas voltar a Paris era um sonho que eu acalentava há muitos anos e Ricardo sabia disto. O melhor é que agora eu retornaria no verão, com a cidade toda florida e sem ter que usar pesados sobretudos. No vôo eu não vi quase nada, apenas abracei meu filho, conversei um pouco com ele e dormi pesadamente, mas assim que voltei a pisar no Aeroporto de Orly comecei a sentir-me bem, quem não se sentiria bem ali?

          Ao nos dirigirmos ao ponto de taxi lembrei-me do taxi que tomei em Orly no dia 31 de dezembro de 1966, mas não disse nada ao meu filho para não preocupá-lo. Tomamos o taxi e meu pressentimento revelou-se verdadeiro, o insano dirigiu-se ao hotel a cento e vinte quilômetros por hora, uma loucura, não consegui acreditar que aquilo estava acontecendo de novo!

          O pior é que o hotel estava cancelando todas as reservas e cancelou a nossa. Nem me lembro do motivo porque já era meia noite e eu estava simplesmente morto de cansaço. Meu filho chamou um taxi e nos dirigimos a um ótimo hotel próximo à Praça da Bastilha, onde finalmente pude dormir e me recuperar da viagem.

Texto do livro "Os Telhados de Ipameri" de Lupércio Mundim


Webdesigner
Poetic Soul Counters
Topsites