O BÊBADO E O ARCEBISPO

Em uma pequena cidade do interior de Goiás havia um militar que vivia em constante estado de embriaguês, o que nem sempre era notado devido à sua enorme resistência física. O tenente Tobias mais parecia um halterofilista ou um desses atores de filmes de ação.

O tenente, apesar de gostar de uma boa farra, era um homem muito religioso e freqüentava a igreja católica local na condição de membro destacado. E foi em uma reunião da igreja que ele tomou conhecimento de que o Arcebispo viria da Capital para participar da festa da paróquia. Os membros da congregação começaram a discutir o planejamento do evento e concluíram que, na procissão, o Arcebispo seria puxado em uma charrete (espécie de carroça) por alguns dos membros, para mostrar a fé e a boa vontade do povo da cidade.

O tenente, que como sempre se encontrava alcoolizado, foi logo dizendo e insistindo que puxaria o Arcebispo sozinho, pois força não lhe faltava. Seus colegas tentaram inutilmente fazê-lo desistir dessa idéia, mas quando o tenente erguia a voz todos se calavam temerosos.

O tempo passava e o dia da chegada do Arcebispo estava ficando próximo, o pároco local, assim como os membros da congregação voltaram a insistir com o tenente, para que ele abrisse mão daquela idéia, mas o tenente Tobias, resoluto, insistia em puxar sozinho a charrete com o arcebispo.

Finalmente o dia tão esperado chegou e o Arcebispo foi recebido na estação ferroviária da cidade pela maioria da população com grande festa. Da estação até a igreja é uma subida de mais ou menos um quilômetro e meio, pois a estação fica na parte mais baixa da cidade e a igreja na mais elevada. Foram todos, portanto, para a igreja, alguns em carros e charretes, mas a maioria a pé, para a preparação da grande procissão e da festa.

Na última hora o padre e os colegas de congregação ainda insistiram para que o tenente, a essa altura já alcoolizado, não puxasse sozinho a charrete, dando desculpas de que ele iria se cansar muito, de que o calor ainda estava forte, apesar do dia estar se findando, que ele poderia passar mal, mas nada fazia o tenente Tobias desistir de sua demonstração de fé e força.

Na hora do início da procissão o Arcebispo, todo paramentado, subiu na charrete toda enfeitada de flores, levando o ostensório. O tenente Tobias assumiu o seu lugar e começou a descer a inclinada avenida que leva à praça principal da cidade.

Como em dia de festa o militar bebia mais que o normal, que já era muito, e considerando o peso da charrete toda enfeitada e do próprio arcebispo, o tenente começou a ter dificuldade em controlar a velocidade da charrete e disparou com ela e o Arcebispo pela ladeira abaixo, para espanto e desespero de todos.

Apenas após passar pela praça e com a ajuda da população, o tenente conseguiu finalmente controlar o veículo e estaciona-lo logo abaixo da praça. O Arcebispo, nervosíssimo e com as pernas bambas, precisou de ajuda para descer da charrete e resolveu que seguiria a pé pelo restante do trajeto, visto que nem mesmo o padre insistia mais na idéia da charrete...


Lupércio Mundim


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